domingo, julho 26, 2009

O VALOR DA AMIZADE







O que vale é a amizade
Da infância até a velhice, os amigos são amparo necessário, diz estudo
Por Maria Fernanda Schardong

Amigo é coisa pra se guardar, diz a canção. E também para conquistar, diz estudo sobre a formação de laços afetivos e relações interpessoais na idade adulta. Se criança precisa de um amigo para a brincadeira, quem já passou dos 50 carece de ombro e amparo. Mudam as exigências e as formas de aproximação, mas a necessidade do afeto e de ir além do círculo familiar persiste por toda a vida.
Interessada no estudo da amizade entre pessoas adultas, Luciana Karine de Souza, vice-presidente da Associação Brasileira de Pesquisa sobre o Relacionamento Interpessoal (ABPRI), foi fundo no assunto. “O interesse surgiu a partir do meu mestrado. Foi ali que eu percebi que havia poucos estudos sobre amizades na fase adulta. Durante minha pesquisa, encontrei somente três estudos brasileiros sobre o tema”, explica ela.
A pesquisa, realizada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, avaliou aspectos sobre amizade, como ajuda mútua, companheirismo, intimidade, segurança emocional e autovalidação. “O foco da pesquisa foi nas melhores amizades, entre pessoas adultas. Com o aumento da expectativa de vida, é importante estudar os relacionamentos interpessoais que vão além dos laços entre familiares e cuidadores", afirma a pesquisadora.
Para a carioca Luiza Moura, 58 anos, o tempo é um aliado quando se trata de amizade. “Com a maturidade tudo fica menos complicado. Passamos a entender mais o outro, compreender melhor os atos e as palavras ditas”, avalia Luiza. Tolerância é mesmo um ingrediente indispensável para preservar as amizades. Ainda de acordo com Luciana, o companheirismo, o respeito, a confiança, a segurança emocional e a paciência também fazem a diferença para a receita da amizade não desandar.
E não é só na hora do aperto que um ombro amigo faz bem. Estudos comprovam que as amizades prolongam a vida. “Para o idoso, manter os amigos é essencial. Num primeiro momento é difícil mesmo, mas a pessoa tem que criar coragem para iniciar uma aproximação. Com os filhos já criados e longe de casa, chega a hora de voltar a viver em grupo. Vale lembrar que a pessoa não está sozinha nesta situação, muitos estão enfrentando a mesma dificuldade”, aconselha a pesquisador.
Que os amigos fazem bem à saúde, outra carioca, Cida Monteiro, 62 anos, não duvida. “Os amigos fazem bem ao coração, tenho prazer de compartilhar com eles meus momentos de alegria e tristeza”, diz Cida. A escritora Hebe Azevedo, 65 anos, é ainda mais categórica. Ou é amigo ou não é. “Um amigo não pode ser mais ou menos amigo. E tanto faz que seja de infância ou reconhecido há pouco tempo. Estamos falando de amigo, não de conhecido”, opina Hebe.
Melhor do que isso é saber que amizade não tem prazo de validade. “Muitos idosos dizem que o melhor amigo é uma pessoa que já morreu. E que, mesmo depois de morta, a pessoa continua fazendo parte de sua vida. Esta é a verdadeira amizade”, diz Luciana Karine. Segundo ela, o distanciamento, tão comum em muitas amizades, ajuda a identificar o amigo de verdade. “Muitas pessoas passam por dificuldade e não sabem como pedir ajuda. E é aí que podemos identificar o verdadeiro amigo. Os bons amigos, aqueles que temos mais proximidade, prestam atenção em nós”, afirma.

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