quarta-feira, outubro 20, 2010

MEUS QUARENTANOS DIGO SESSENTANOS!




Meus quarentanos
por Luiz Biajoni

(a propósito de não mais ter 20 anos e lendo o livro de David Shields)

Eu vi em
A única certeza da vida é que um dia você vai morrer:
Coma primeiro a sobremesa – a vida é incerta!
Essa frase, colhida em um para-choque de caminhão, é a propósito de outra,
De Leonard Michaels:
“A vida não é boa o bastante para que deixemos de fumar”.
E, como na piada da cabra,
A vida só piora.
Neil Young, um sobrenome a pesar nas costas,
Disse que aos 20 anos, você e o mundo são as coisas mais importantes -
E tudo gira em torno disso.
Batendo nos 60 anos, Neil percebeu que é apenas uma folha
Boiando na superfície de um rio.
Tackeray:
“Aos 20 anos, muito bem;
Mas aos 47, Vênus poderia surgir do mar
E eu apenas colocaria os óculos para dar uma olhada”.
Mesmo que tenhamos um vocabulário três vezes maior aos 45,
É com 20 anos que conseguimos formular melhor nossos pensamentos.
Os melhores velocistas têm cerca de 20 anos.
Recordistas de maratonas têm entre 25 e 35 anos.
Joseph Campbell era maratonista com 20 anos,
Graduou-se em literatura inglesa com 21,
Concluiu o mestrado em literatura medieval com 23.
Baudelaire lançou-se na poesia
Aos 22 anos.
Se mostramos uma lista de 24 palavras para uma pessoa de 20 anos
Ela irá se lembrar de 14.
Aos 40 anos, com sorte, apenas de 11.
Quarentanos é perder mais de metade da memória.
É esquecer mais da metade das mulheres,
Dos amigos,
Das canções que antes cantávamos de cor.
Blonde on Blonde é o sétimo álbum de Bob Dylan,
Que tinha 24 anos quando compôs “Visions of Johanna”,
Obra-prima do disco.
Nosso QI é mais alto entre os 18 e 25 anos.
Aos 25 anos, o cérebro atinge seu tamanho máximo.
Quem não for famoso aos 28 anos, é melhor esquecer!
Foi Goethe quem disse. Ele publicou Werther aos 25.
Mais de 30 anos depois, veio o Fausto. Mas ele já era famoso.
E o Fausto é uma obra de depressão.
É uma obra invernal.
Chico Buarque tinha 27 quando lançou Construção.
Tinha lançado dez discos antes.
Jimmi Hendrix morreu com 27.
Janis Joplin também.
Jim Morrison também.
Robert Johnson também.
Brian Jones também.
Kurt Cobain também.
Morreram antes de ter que apelar a qualquer pai.
A qualquer misericórdia.
Nicholas Murray, um escritor semi-conhecido,
Assim como tantos,
Disse que na lápide de muita gente devia estar escrito:
“Morto aos 30, enterrado aos 60”
Rousseau:
“O homem é sempre o mesmo:
Aos 10 anos, é atraído por doces;
Aos 20 anos, por uma amante;
Aos 30 anos, pelo prazer;
Aos 40 anos, pela ambição;
Aos 50 anos, pela avareza.
Depois disso, o que lhe resta senão a sabedoria?”
E para precoces, a sabedoria não viria
Talvez num ano bissexto aos 30, quando já estivesse sem ambição
E sem prazer?
Kafka lançou A Metamorfose
Alcançando os 30 anos.
Emerson disse que após os 30 anos
Um homem – exceto talvez uns cinco ou seis -,
Acorda triste todas as manhãs,
Até o dia da sua morte.
Lou Reed gravou Transformer aos 30 anos.
Tolstoi achava deprimente ter 31 anos,
Tinha uma noção clara da inutilidade e da impossibilidade
Do ser.
Antes de morrer na guilhotina,
Camille Desmoulins mentiu a idade.
Líder jovem da Revolução Francesa, tinha 34 anos.
Comparou-se a Jesus e disse que 33 é uma idade fatal para revolucionários.
Jesus devia estar cansado aos 33,
Ou não teria se entregue à cruz.
Invocaria uma tempestade.
Coppola lançou O Poderoso Chefão com 33 anos.
Dos 25 aos 35, Shakespeare escreveu suas principais peças.
A artrite reumatóide começa entre os 35 e os 45 anos.
Foi com 35 que Vincent Van Gogh cortou um pedaço da própria orelha
E embrulhou num lenço como presente
Para a prostituta Raquel.
Morreu dois anos depois.
Mozart morreu aos 35.
Byron aos 36.
Rafael aos 37.
Púchkin morreu num duelo aos 37
Depois de ter fundado a literatura russa.
Scorsese fez Taxi Driver com 34
E Touro Indomável com 38 anos.
O lutador mais velho a conquistar um título profissional de boxe tinha 38 anos.
Quando faz 40 anos,
Os tecidos da glândula da próstata atrofiam
E o músculo degenera.
O homem produz menos sêmem
E com menos pressão.
Schopenhauer disse:
“Os primeiros 40 anos da vida nos dão o texto;
Os 30 restantes, o comentário do texto”.
Fazendo de sua vida a sua própria obra,
E colocando as coisas no papel de maneira aleatória,
Henry Miller conseguiu juntar e publicar algo,
Com ajuda financeira de sua amante, Anais Nin,
Apenas com 43 anos,
Numa espécie de gozo retardado.
Decadente,
Elvis Presley morreu com 42 anos.
F. Scott Fitzgerald, também decadente, com 44.
Cícero disse que a velhice começa aos 46 anos.
John Kennedy morreu com 46 anos.
Foi morto.
Mas talvez não quisesse viver muito mais.
Tardio,
Da Vinci pintou a Última Ceia
Com 48.
Bukowski lançou seu primeiro livro com 50 anos
E não imaginava que fosse viver mais 24 anos ainda:
Já se considerava velho com 30.
(Temos aí esse longevos maravilhosos,
Saramago, Woody Allen, Leonard Cohen,
Manoel de Oliveira, Manuel de Barros,
Esses porras, que apenas confirmam a regra)
Chaucer informa:
“Se o ouro enferruja, o que dizer do ferro?”
E eu? Que sou de lata?
Quando me perguntam:
“O que tem feito?”
Eu respondo:
“Estou ocupado em envelhecer”
E reitero:
Não é uma ocupação que me dê prazer.


*Nota de mim mesma: Eu estou ocupada em viver! Não em envelhecer, isso é papo para após o 100 anos.Ainda tenho muito a fazer, a amar, a aprender! (I♥ó)

segunda-feira, outubro 04, 2010

Crônica de uma família - Primeira Parte




Era uma vez... Uma família!

Tudo começou quando o avô quis namorar a avó...
Eram duas famílias tipo as de Romeu e Julieta. Só que as mães é que se detestavam.
Imagine que eles se namoravam de longe, ela até o espiava pelo buraco da fechadura e ele ficava no jardim da praça, perto da casa. Não sei como foi, pois quem sabia já morreu, eu acho, mas o fato concreto é que acabaram-se casando.
Minha avó, uma mulher elegante e bonita, com cabelos fininhos e lisos. Dependente de índios por parte da mãe que dizia sempre que “a bisavó foi pega a dentes de cachorro”... Rsrsrsrs! Desconfiada como ela só.
Já meu avô era moreno, olhos verdes (já pensou? Um gato como se diz hoje). Tinha os cabelos castanhos e crespos. Era descendente de negros e europeus. Sei que é uma mistura e tanto nessa família adorável.
Pois bem, casaram-se e formaram uma bela família com nove filhos vivos e algumas perdas. Minha mãe foi a primeira filha que recebeu o nome de uma rainha egípcia, Zenóbia. Sei que vivos nas primeiras décadas do casamento foram os seguintes filhos:
Antonio, Jonas, Manoelito, Auristela, Gilberto e Humberto (gêmeos), José e Israel.
Também havia Zuleica e Zelinda que morreram meninas, uma queimada e a outra de alguma doença infantil não identificada... Que denominaram “barriga d’água”.
Meu avô vivia viajando e por essas andanças constituiu outra família, sem que minha avó soubesse. E com a nova mulher ele teve mais cinco filhos: Benício, Zoraide, Edna, Aloísio e Luzia. Como não presenciei, a não ser após a morte de minha avó, não sei muito a respeito deles. O que posso afirmar que são pessoas boas e formamos atualmente um único e grande núcleo familiar.
Hoje em dia, em 2010, posso lembrar-me de fatos que marcaram várias vidas nessa família. Eu nasci de Zenóbia, primogênita dessa família, que foi casada com o médico Antônio Astolpho. Sou a 4ª filha de seis.
Vivi durante muitos anos observando como a família Rebouças era unida, alegre apesar de alguns problemas que toda família grande tem. Havia festas na casa da minha avó, principalmente em seu aniversário, onde se reuniam todos os ramos: filhos, genros e noras, netos e parentes de todo canto que iam para a casa dela, um casarão bonito que ficava na Rua da Itália, em Jequié. Ela ficava muito feliz!
Depois o tempo passou e a família, por necessidade de alguns membros, separou-se. A própria avó veio para Salvador. Muitos anos depois, não sei por que também voltou para Jequié e lá ficou até sua morte.
A família que era linda, dizem que por causa crescimento e necessidade, em vez de ficar unida se dissipou e o curioso que tem pessoas que nem conheço.
Hoje tenho uma filha que também não conhece quase ninguém. Apesar do esforço que faço em manter a união, mas tem gente que nem quer saber da existência. Muitas vezes o local de encontro... é até digno de risos, enterro de alguém. Porque até casamentos que antes era também uma forma de se encontrar, não convidam mais.
Penso que o dia-a-dia é que faz isso: as pessoas se tornam egoístas e diminuem o círculo a cada dia. Por que seria?
Fico muito triste. Eu pretendia fazer uma crônica interessante. Contaria fatos engraçados e curiosos dessa família. Mas resolvi não me expressar mais.
Cansei!